terça-feira, maio 29, 2007

Obra Aberta


Vou me perder de fato
pra ver se enfim me acho
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segunda-feira, março 05, 2007

Otimismo


Ao menos penso que se me atiro da varanda, morro com vista pro mar.
Entre bocejos, me fascina uma criança ou o luar.
Mesmo quando o choro se sobrepõe ao riso, rego com os olhos minhas dores que em verde e semente ou flor faço brotar.
Reafirmo diariamente meu compromisso com a felicidade, que sabida, espera minha pressa acalmar.
E faço as pazes com o tempo...
E trago a festa para os olhos...
E redescubro que o que quero é já.

Me descascando faço a sorte me sentar.
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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Carnaval

Estou virando um arlequim opaco.
Em qual esquina eu larguei meu bloco e encerrei minha festa? Vim atrás de máscaras que me respondem à sorte de dados. E fui criança medrosa, de pesadelo em pesadelo. Prefiria índios verdes, palhaços tristes ou odaliscas obesas a bate-bolas. Tenho guardado no fundo das minhas gavetas, segredos que se suicidam a cada piscar de olhos e uma incoerência que não me orienta nem me define em estilo literário.
Depois da quarta-feira de cinzas tudo é ressaca.
Vou me trancar cadeados, vou me perdendo chaves... que no carnaval seguinte, alguém pierrô-bailarina me reinvente.
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terça-feira, dezembro 26, 2006

Frasezinha

Quisera eu escrever uma frase só, sem pronome, sem verbo, com palavrinhas,
frasezinha,
onde coubesse toda alegria e dor do mundo.
Que fizesse chorar e sorrir, que falasse pra mim, que dissesse por mim, que me envergonhasse, que calasse o grito e que fizesse chover nas mais belas lágrimas
todos os nós.
Que valesse por cheiros, flores e cores. Sendo em preto, que não excluísse o branco.
Escrita no diminutivo.
E que me salvasse a sensação de jamais terminar de escrevê-la embora nela eu colocasse o ponto.
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sexta-feira, dezembro 22, 2006

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"Felicidade se acha em horinhas de descuido."
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Amanhecido, com o sono de ontem ainda encubado, fez silêncio pra espiar o mau-humor que por ele passava. Já pessoa, até bebeu e fumou e fingiu gostar de frutas num café da manhã que valeu de almoço e talvez jantar. E viu chover e seguido o sol. E correu do vento e dirigiu faróis e lembrou que caminhar depois da praia dá uma sede de vida de quem já bebeu, de coca-cola com slogan grapette. Do alto de uma pedra, com o calor nas costas e os pés e mãos abertos para evitar a queda, ele entardeceu lagarto. Olhar descuidado pra perceber na sutileza das metáforas que o olho vê, o embelezar de cada dia. Anoiteceu brega. Fez abuso das conjunções pra refazer o caminho de quem sabe que com a soma dos dias se constrói a vida. Que ela se tece segundo a segundo. E que o espaço para a surpresa é feito por quem reconhece o branco, o eco e o infinito. E ele, que não esperava nada hoje, teve o dia atravessado por uma baleia.
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sábado, dezembro 09, 2006

Godot

ESTRAGON
Não me toque, não me faça perguntas, não fale comigo. Fique!

VLADIMIR
Alguma vez eu o abandonei?

ESTRAGON
Você me deixou partir.
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quarta-feira, dezembro 06, 2006


A gota que cai
Tingindo o tapete
Faz graça por ser vermelha.
O que inflama os corações apaixonados
Não é a cor,
É o sangue.
Se eu me esvaziar
Talvez eu faça transbordar um copo,
Talvez eu escorra diluindo o amor.

Penso morrer um cadinho,
Dia sim, dia não.

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