terça-feira, dezembro 26, 2006

Frasezinha

Quisera eu escrever uma frase só, sem pronome, sem verbo, com palavrinhas,
frasezinha,
onde coubesse toda alegria e dor do mundo.
Que fizesse chorar e sorrir, que falasse pra mim, que dissesse por mim, que me envergonhasse, que calasse o grito e que fizesse chover nas mais belas lágrimas
todos os nós.
Que valesse por cheiros, flores e cores. Sendo em preto, que não excluísse o branco.
Escrita no diminutivo.
E que me salvasse a sensação de jamais terminar de escrevê-la embora nela eu colocasse o ponto.
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sexta-feira, dezembro 22, 2006

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"Felicidade se acha em horinhas de descuido."
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Amanhecido, com o sono de ontem ainda encubado, fez silêncio pra espiar o mau-humor que por ele passava. Já pessoa, até bebeu e fumou e fingiu gostar de frutas num café da manhã que valeu de almoço e talvez jantar. E viu chover e seguido o sol. E correu do vento e dirigiu faróis e lembrou que caminhar depois da praia dá uma sede de vida de quem já bebeu, de coca-cola com slogan grapette. Do alto de uma pedra, com o calor nas costas e os pés e mãos abertos para evitar a queda, ele entardeceu lagarto. Olhar descuidado pra perceber na sutileza das metáforas que o olho vê, o embelezar de cada dia. Anoiteceu brega. Fez abuso das conjunções pra refazer o caminho de quem sabe que com a soma dos dias se constrói a vida. Que ela se tece segundo a segundo. E que o espaço para a surpresa é feito por quem reconhece o branco, o eco e o infinito. E ele, que não esperava nada hoje, teve o dia atravessado por uma baleia.
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sábado, dezembro 09, 2006

Godot

ESTRAGON
Não me toque, não me faça perguntas, não fale comigo. Fique!

VLADIMIR
Alguma vez eu o abandonei?

ESTRAGON
Você me deixou partir.
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quarta-feira, dezembro 06, 2006


A gota que cai
Tingindo o tapete
Faz graça por ser vermelha.
O que inflama os corações apaixonados
Não é a cor,
É o sangue.
Se eu me esvaziar
Talvez eu faça transbordar um copo,
Talvez eu escorra diluindo o amor.

Penso morrer um cadinho,
Dia sim, dia não.

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sexta-feira, dezembro 01, 2006

Lamento Febril




Tô me ausentando da gente
pra ver se assim eu dôo menos.
Vou descolorir meu cinza.
Marcar com novas cores
o preto-e-branco que a tua falta pintou.
Cada vez que você diz que vem
eu apronto minha alma pra te receber
e eu já nem acredito mais.
Jorrar poesia enquanto engano a solidão.
Voltar a ser.
Morrer no encontro do coração com o riso.
A minha paz pegou um atalho e se perdeu no caminho.
Chega de paliativo.
Cansei da sutileza metafórica.
Formamos imagens que se opõem usando o mesmo vocabulário.
Estou aqui, nu
despido de palavras,
pra quem tenha olhos pra ver e mãos pra tocar.